quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Análise do Texto Gente Invisível por Joyna Petta


No texto Gente Invisível, escrito pela professora Lígia Fascioni, da Universidade de Santa Catarina, faz-se uma menção do trabalho de mestrado de Fernando Braga da Costa, no qual ele se dispôs a passar oito anos como gari em sua universidade com a finalidade de entender como estes profissionais eram vistos pela sociedade.
Em sua conclusão, Fernando revela algo intrigante, os garis sequer eram vistos. Durante o tempo em que ele estivera com vestes e ferramentas de gari, ele era invisível, inclusive não sendo reconhecido nem pelos seus próprios amigos de faculdade. A professora Lígia conclui que o povo do braço é considerado equipamento, objeto, parte da paisagem, e propõe a seguinte reflexão: será que a gente trata mesmo as pessoas assim? Todo carinho do mundo para os nossos pares, o completo desprezo pelos que não são da “nossa classe”?
É uma reflexão válida, sobretudo porque as conseqüências da postura adotada diante dela pode definir quem realmente somos – pessoas civilizadas, educadas e sensíveis que interagem no dia-a-dia com todos, independente das diferenças, ou pessoas indiferentes a tudo e a todos que não dividem conosco a mesma realidade social, ou ainda pior, seres humanos extremamente individualistas, preconceituosos e excludentes. Certa vez, numa audiência pública na Assembléia Legislativa do meu Estado, um palestrante antes de iniciar sua fala sobre comunidades tradicionais fez questão de ler um texto, que levanta as mesmas inquietações que levaram Fernando a realizar sua pesquisa e a professora Lígia a escrever o seu texto Gente invisível. As pessoas que fazem parte de povos e comunidades tradicionais passaram por processos históricos bem distintos, representam segmentos da nossa sociedade, como os índios, os quilombolas, as quebradeiras de coco babaçu, os ciganos, os povos de terreiros, entre tantos outros, que estabeleceram formas próprias de viver que geram simultaneamente riqueza sócio-cultural e a mesma invisibilidade diagnosticada por Fernando em seu trabalho de mestrado. O texto citado pelo palestrante, denomina-se Vista cansada, de Otto Lara Resende, publicado no livro Amor e Mudança, em 1999. O autor nos faz um desafio: Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Ele logo adverte que Parece fácil, mas não é. O que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
A professora Lígia traz a inquietação de seu texto para a prática profissional. Quero levar adiante seu questionamento, agora sobre a prática do jornalismo. Será que as matérias jornalísticas que lemos, ouvimos ou assistimos todos os dias, que tão superficialmente nos informam não são de alguma forma fruto de um olhar banalizado, que vê não-vendo? A postura elitista, as palavras usadas nos jornais que classificam e marginalizam, aprisionando ao invés de proporcionar imparcialidade através de matérias que contemplem todos os lados envolvidos, independente da classe social ou de qualquer outra diferença apresentada. A rotina jornalística cada vez mais acelerada, onde o aumento da velocidade da sua produção termina por diminuir a qualidade da informação produzida, não deve ou pelo menos não deveria, limitar o olhar do jornalista. Otto Lara diz que o hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Como futuros profissionais do jornalismo não podemos permitir que nossos olhos se cansem, nem se tornem opacos, devemos mantê-los atentos e limpos, para que não se instale no nosso coração o monstro da indiferença e não corramos ainda o risco de disseminá-lo mundo afora através do trabalho a ser desempenhado por nós.

http://ligiafascioni.wordpress.com/2008/04/09/quem-quer-ser-invisivel/