Mexendo hoje em uma caixa de livros, encontrei um antigo caderno de fichamento de minhas leituras, onde escrevi este poema quando descobri que havia uma outra vida vivendo dentro de mim...Josué!!!
Acabei lembrando do tempo em postava as impressões do que eu lia aqui. Senti saudades. Resolvi voltar. Espero ter um pouco mais de tempo para contemplar, ler e compartilhar.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
sábado, 20 de dezembro de 2008
Análise do Conto “A Chinela Turca”, de Machado de Assis por Joyna Petta
O conto A Chinela Turca, escrito por Machado de Assis, é um texto extremamente rico, pois além de fazer uso de uma linguagem interativa, também revela um senso de humor sarcástico, e além do mais exige muita atenção do leitor.
Faz-se mister elucidar no conto a importância que o imaginário exerce nas narrativas ficcionais, pois a relação do fictício com o real é na verdade uma propriedade fundamental deste tipo de narrativa. A descrição feita por Machado de Assis adequou o sonho como descrição da realidade. A Chinela Turca faz parte do volume Contos fluminenses e Papéis Avulsos e pertence à corrente literária realista.
Percebe-se na narrativa a relação do “sonho” com a “realidade” e do “real” com o “imaginário”. Este depreende-se na seguinte passagem: “De repente, viu Duarte que o Major enrolava outra vez o manuscrito, erguia-se, empertigava-se, cravara nele uns olhos odientos e maus, e saía arrebatadamente do gabinete...”, a partir deste ponto a imaginação de Duarte dá origem a uma série de acontecimentos mirabolantes, numa narrativa acelerada e envolvente que irá se deparar mais adiante com a realidade em um dado momento, aquele quando o narrador declara: “Fitou os olhos no homem. Era o Major Lopes Alves. O Major, empunhando a folha, cujas dimensões iam-se tornando extremamente exíguas, exclamou repentinamente: - Anjo do céu, estás vingado! Fim do último quadro”. Neste trecho percebe-se à volta ao mundo real feita pelo protagonista, que em meio ao tédio da peça do Major, permitiu-se fugir da presença da visita enfadonha, lançando mão da única rota de fuga possível, a imaginação.
Em ambos os casos se percebe a perícia do autor, pois ele trabalha de forma magnífica este jogo de realidade e imaginação, selecionando cuidadosamente fatos, lugares e personagens e combinando-os na construção de relações que extrapolam os limites do conto, forçando a participação efetiva do leitor, visto que esta passagem da vigília ao sonho se dá de modo sutil, imperceptível à primeira leitura, igualmente como acontece na experiência de sonhar. O imaginário do leitor também vem completar o texto.
Assim, Machado de Assis distingui-se dos outros escritores por sua originalidade. Este conto inclusive possibilita a exposição de conceitos da psicanálise de Freud, como o impedimento do desejo, este de Duarte em relação ao encontro com Cecília, derivado da consideração da amizade que seu falecido pai tinha pelo Major, além de outro dado conciliador, este também era aparentado de seu amor. O “suplício” de Duarte já encontrara suas justificativas, enquanto que o sonho surge como uma alternativa de compromisso, mantendo Duarte fisicamente na presença do maçante major, ao mesmo tempo em que desenvolve sua fantasia com Cecília, havendo, portanto uma permutação de significantes do texto literário de Lopo Alves com os significantes da relação de Duarte com Cecília.
Uma leitura intrigante, envolvente e que foge do óbvio, marca registrada de Machado de Assis, que também foi fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, onde ele está literalmente em casa*.
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* A Academia Brasileira de Letras também é chamada de Casa de Machado de Assis.
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/chinela.html
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Em terra de cego quem tem um olho é rei?
Herbert George Wells, em seu conto “Em Terra de Cego”, conta a história de um povo lendário que mora num lindo vale isolado, onde seus moradores possuíam uma característica em comum, todos eram cegos. O narrador os descreve como um povo feliz com uma vida normal, harmônica, agradável e metodicamente organizada. Eles não tinham noção do era enxergar, logo a visão não lhes fazia falta, pois já haviam se adaptado às suas necessidades. Sua harmonia foi quebrada apenas com a chegada de um estranho que podia ver, o qual traz no seu íntimo a intenção de dominá-los, tomando por base o ditado popular “em terra de cego quem tem um olho é rei”, este se considera superior por possuir todos os cinco sentidos funcionando. Mas no decorrer da história, o estranho termina dominado pelos cegos, anulando assim a eficácia do ditado popular, tantas vezes repetido por ele. Este ainda teria que se submeter a uma cirurgia que lhe arrancaria os olhos e seu dom mais especial, a visão, para enfim ser aceito totalmente. Esta imposição o leva a fugir, deixando para trás um começo de vida e um amor que havia brotado na terra de cegos, mesmo sem ter certeza de que conseguiria voltar à civilização e ao que tinha deixado por lá. Ele segue o caminho de volta e quando é tomado pelo cansaço, que aflige tanto cegos como videntes, ele faz o que só os videntes podem fazer, se rende à contemplação e o conto termina.
Na película “Ensaio sobre a cegueira” baseado no livro de mesmo nome, da autoria de Saramago, é narrado o acontecimento de uma epidemia de cegueira, iniciada com um japonês e transmitida para pessoas que tiveram contato físico com ele, como seu oftalmologista, os que lhe prestaram socorro durante sua crise, e estes últimos terminaram por disseminar a enfermidade. O governo decide enclausurar em uma espécie de abrigo todos os que manifestam a doença. Entre os infectados, apenas uma pessoa permanece com a visão intacta, a mulher do oftalmologista, tendo o cuidado de manter esse detalhe em segredo, tudo indica que é pelo fato dela ter se privado do sono, pois os outros manifestaram a doença logo depois que acordavam. Neste ambiente hostil, eles criam formas de adaptação à nova realidade, sempre assistidos cuidadosamente pela única vidente, que contraria o ditado popular anteriormente citado, visto que ao invés de se propor como rainha entre os cegos, ela se coloca com auxiliadora e protetora, mãe e enfermeira deles. No entanto, um outro personagem, cego, se intitula rei da ala 3, instaura uma ditadura no local, consegue seguidores e juntamente com eles traz desarmonia, violência e morte. É contra esse rei mal que o grupo do bem se revolta, após a morte de uma companheira. A mulher do médico mete uma tesoura no pescoço dele, e outra interna toca fogo em toda a ala 3. Neste momento, o grupo resolve fugir. Para a surpresa deles, o caos também havia se espalhado cidade afora. A perda da visão havia reduzido os homens à condição de bichos. O filme também levanta reflexões sobre dignidade, solidariedade e esperança. No final da história, o primeiro a ficar cego também é o primeiro a voltar a enxergar, o fato é recebido com alegria, apenas uma pessoa permanece em silêncio, a vidente, com medo de dizer “agora estou cega”, enquanto ouvia seus companheiros dizerem “agora, eu posso ver”.
Existe, portanto, uma forte ligação entre as três propostas, conto, filme e ditado popular, que transcende o tema da cegueira, pois em todas elas podem observar-se uma reflexão sobre a própria essência humana, na sua necessidade de delimitação de espaço, em exercer autoridade sobre os demais e na capacidade de esquecer valores e princípios morais quando sofre privações. Certamente o ditado “Em terra de cego quem tem um olho é rei” não se adequou às situações do filme e nem tão pouco às do conto. Talvez a criação de um novo ditado equacionasse a questão, me arriscarei a oferecer uma opção: “Em terra de gente manter o sentimento funcionando é mais importante do que manter os sentidos em si, e só quem tem o poder de sentir é que deveria reinar”.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Texto temático a partir de O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, por Joyna Petta
Dia 05 de Outubro, data da escolha dos candidatos aos cargos eletivos para prefeito e vereador, está se aproximando e junto com ele várias questões se tornam latentes na sociedade democrática, como a definição de critérios de avaliação dos pretendentes, estabelecimento das necessidades prioritárias a serem solucionadas e discussão sobre a credibilidade dos políticos brasileiros.
Observando-se elementos encontrados em O conto da ilha desconhecida, que narra a história de um homem obstinado que decide pedir um barco ao rei, mesmo sem saber navegar e sem possuir estrutura alguma, mas contudo carregando o sonho de encontrar uma ilha nunca antes conhecida. Na primeira tentativa, teve seu sonho dificultado pela burocracia, seu rei não era acessível. Depois de muita espera, após ouvir um não, ele não desiste do seu sonho e insiste no seu plano original. A situação exposta por Saramago, por meio de uma linguagem singular, não é estranha aos brasileiros, visto que uma audiência com um político é algo muito difícil, principalmente se o motivo for fazer um pedido.Diante de uma quantidade considerável de opções, saber escolher alguém compromissado com a coletividade requer tempo e cuidado. No conto de Saramago, o homem não teve a oportunidade de escolher seu representante, pois este era um rei, mas percebe-se neste personagem características presentes em alguns políticos atuais, entre elas o distanciamento do povo. Para quem pode escolher, o óbvio seria optar por alguém que tivesse mostrado trabalho e compromisso ou alguém que mesmo sem experiência apresentasse capacidade de realização.Maior que a quantidade de candidatos é a necessidade da população, portanto definir as urgências e procurar nomes que proponham uma solução para elas é um caminho. O problema é que interesses particulares dificultam esse processo, colocando-se antes dos interesses coletivos, dando assim espaço para a corrupção, para troca de favores e para anulação do maior poder que cada cidadão possui – o voto. Políticos corruptos são eleitos por pessoas que compactuam com a corrupção, mas isso pouca gente discute. O julgamento se dá de forma unilateral, mas quem julga termina julgado e igualmente punido por suas avaliações.Saramago nos ensina que acreditar que uma sociedade melhor é possível, é tão importante quanto descobrir o valor de um sonho, como pedir um barco e levá-lo ao mar, crendo que este não vai afundar. Escolher bem os tripulantes garante uma viagem mais segura, ainda que não se tenha certeza de até onde se vai chegar. Saber exigir é fundamental, saber persistir garante o sucesso. E uma escolha bem feita certamente gerará motivos de felicidade e agradecimentos, ele até cria uma outra porta pra isso. Porém a decisão do voto se dá de forma solitária, assim como na porta das decisões, no momento de usar a urna, é um de cada vez, depois disso nada vai ser como antes, não tem como voltar atrás. A decisão do voto vale muito mais que uma vida, dela depende o futuro de toda população.
Escrito em 01/10/2008
Observando-se elementos encontrados em O conto da ilha desconhecida, que narra a história de um homem obstinado que decide pedir um barco ao rei, mesmo sem saber navegar e sem possuir estrutura alguma, mas contudo carregando o sonho de encontrar uma ilha nunca antes conhecida. Na primeira tentativa, teve seu sonho dificultado pela burocracia, seu rei não era acessível. Depois de muita espera, após ouvir um não, ele não desiste do seu sonho e insiste no seu plano original. A situação exposta por Saramago, por meio de uma linguagem singular, não é estranha aos brasileiros, visto que uma audiência com um político é algo muito difícil, principalmente se o motivo for fazer um pedido.Diante de uma quantidade considerável de opções, saber escolher alguém compromissado com a coletividade requer tempo e cuidado. No conto de Saramago, o homem não teve a oportunidade de escolher seu representante, pois este era um rei, mas percebe-se neste personagem características presentes em alguns políticos atuais, entre elas o distanciamento do povo. Para quem pode escolher, o óbvio seria optar por alguém que tivesse mostrado trabalho e compromisso ou alguém que mesmo sem experiência apresentasse capacidade de realização.Maior que a quantidade de candidatos é a necessidade da população, portanto definir as urgências e procurar nomes que proponham uma solução para elas é um caminho. O problema é que interesses particulares dificultam esse processo, colocando-se antes dos interesses coletivos, dando assim espaço para a corrupção, para troca de favores e para anulação do maior poder que cada cidadão possui – o voto. Políticos corruptos são eleitos por pessoas que compactuam com a corrupção, mas isso pouca gente discute. O julgamento se dá de forma unilateral, mas quem julga termina julgado e igualmente punido por suas avaliações.Saramago nos ensina que acreditar que uma sociedade melhor é possível, é tão importante quanto descobrir o valor de um sonho, como pedir um barco e levá-lo ao mar, crendo que este não vai afundar. Escolher bem os tripulantes garante uma viagem mais segura, ainda que não se tenha certeza de até onde se vai chegar. Saber exigir é fundamental, saber persistir garante o sucesso. E uma escolha bem feita certamente gerará motivos de felicidade e agradecimentos, ele até cria uma outra porta pra isso. Porém a decisão do voto se dá de forma solitária, assim como na porta das decisões, no momento de usar a urna, é um de cada vez, depois disso nada vai ser como antes, não tem como voltar atrás. A decisão do voto vale muito mais que uma vida, dela depende o futuro de toda população.
Escrito em 01/10/2008
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar " - Saramago em O Conto da Ilha Desconhecida
Análise do Texto Gente Invisível por Joyna Petta
No texto Gente Invisível, escrito pela professora Lígia Fascioni, da Universidade de Santa Catarina, faz-se uma menção do trabalho de mestrado de Fernando Braga da Costa, no qual ele se dispôs a passar oito anos como gari em sua universidade com a finalidade de entender como estes profissionais eram vistos pela sociedade.
Em sua conclusão, Fernando revela algo intrigante, os garis sequer eram vistos. Durante o tempo em que ele estivera com vestes e ferramentas de gari, ele era invisível, inclusive não sendo reconhecido nem pelos seus próprios amigos de faculdade. A professora Lígia conclui que o povo do braço é considerado equipamento, objeto, parte da paisagem, e propõe a seguinte reflexão: será que a gente trata mesmo as pessoas assim? Todo carinho do mundo para os nossos pares, o completo desprezo pelos que não são da “nossa classe”?
É uma reflexão válida, sobretudo porque as conseqüências da postura adotada diante dela pode definir quem realmente somos – pessoas civilizadas, educadas e sensíveis que interagem no dia-a-dia com todos, independente das diferenças, ou pessoas indiferentes a tudo e a todos que não dividem conosco a mesma realidade social, ou ainda pior, seres humanos extremamente individualistas, preconceituosos e excludentes. Certa vez, numa audiência pública na Assembléia Legislativa do meu Estado, um palestrante antes de iniciar sua fala sobre comunidades tradicionais fez questão de ler um texto, que levanta as mesmas inquietações que levaram Fernando a realizar sua pesquisa e a professora Lígia a escrever o seu texto Gente invisível. As pessoas que fazem parte de povos e comunidades tradicionais passaram por processos históricos bem distintos, representam segmentos da nossa sociedade, como os índios, os quilombolas, as quebradeiras de coco babaçu, os ciganos, os povos de terreiros, entre tantos outros, que estabeleceram formas próprias de viver que geram simultaneamente riqueza sócio-cultural e a mesma invisibilidade diagnosticada por Fernando em seu trabalho de mestrado. O texto citado pelo palestrante, denomina-se Vista cansada, de Otto Lara Resende, publicado no livro Amor e Mudança, em 1999. O autor nos faz um desafio: Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Ele logo adverte que Parece fácil, mas não é. O que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
A professora Lígia traz a inquietação de seu texto para a prática profissional. Quero levar adiante seu questionamento, agora sobre a prática do jornalismo. Será que as matérias jornalísticas que lemos, ouvimos ou assistimos todos os dias, que tão superficialmente nos informam não são de alguma forma fruto de um olhar banalizado, que vê não-vendo? A postura elitista, as palavras usadas nos jornais que classificam e marginalizam, aprisionando ao invés de proporcionar imparcialidade através de matérias que contemplem todos os lados envolvidos, independente da classe social ou de qualquer outra diferença apresentada. A rotina jornalística cada vez mais acelerada, onde o aumento da velocidade da sua produção termina por diminuir a qualidade da informação produzida, não deve ou pelo menos não deveria, limitar o olhar do jornalista. Otto Lara diz que o hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Como futuros profissionais do jornalismo não podemos permitir que nossos olhos se cansem, nem se tornem opacos, devemos mantê-los atentos e limpos, para que não se instale no nosso coração o monstro da indiferença e não corramos ainda o risco de disseminá-lo mundo afora através do trabalho a ser desempenhado por nós.
http://ligiafascioni.wordpress.com/2008/04/09/quem-quer-ser-invisivel/
Análise do Conto “O gato preto”, de Edgar Allan Poe, por Joyna Petta
Narrado em primeira pessoa, O gato preto, de Edgar Allan Poe, trata da história de um homem simples que adorava animais e que desenvolve no decorrer da narrativa uma postura doentia, um espírito perverso capaz de atitudes com requinte de crueldade. Poe envolve o leitor numa atmosfera de suspense e obscuridade, causando sobressaltos e gerando uma sensação estranha de terror.
Depreende-se, assim, com a leitura do conto que Poe trabalha com maestria os mistérios da morte e da loucura, aprofundando-se em certos estados da mente humana, como se pode observar quando o narrador-personagem define suas alterações de personalidade que ocorrem ao longo do conto, desde as pequenas alterações à perda total do controle emocional e psíquico, sendo este último estado piorado pelo consumo abusivo de álcool. Como quando narra: Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo.(...) Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Nessa mesma linha de pensamento, Poe analisa a natureza humana em suas diversas nuances, fazendo uma reflexão sobre as mazelas psicológicas às quais estão sujeitos todos os seres humanos. A neurose que leva o personagem a cometer tantas atrocidades, que contrastam com maior parte de sua vida, na qual era um sujeito pacato e sociável. Este contraste se evidencia na seguinte parte do texto: Não só descuidei-me de mim, de minha mulher e de meus bichos, como os maltratava com a maior crueldade. Ou ainda neste trecho, onde fica claro a insanidade latente que o faz atribuir ao gato as conseqüências de seus atos: O gato que me levara ao crime e cuja voz delatora me havia entregue ao carrasco. Desta forma, independente de trabalhar com os impulsos primitivos que regem o caráter do homem, o que há em Edgar Allan Poe é um talento narrativo e uma forma criadora que seleciona cuidadosamente todos os elementos textuais. Do bicho ao nome concedido a ele, Plutão, que representa o deus dos infernos, o Hades. O gato preto está repleto de simbolismos, seu texto pesado, mistura um misticismo, validado tanto pela mitologia grega quanto pela superstição popular e ainda concentra conceitos das teorias de Freud, como o inconsciente e o recalque.Poe escreve com bastante rigor e precisão, dando a sua narrativa um tom racional, porém recheando-a de situações inusitadas só possíveis no realismo fantástico. Nesta história, gato e homem interagem, mas nada se dá ao acaso, nota-se uma forte relação de causa e efeito, onde os instintos animais afloram e revelam a essência do bicho homem.
http://www.beatrix.pro.br/literatura/o_gato_preto.html
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Análise do conto “A Cartomante”, de Machado de Assis por Joyna Petta
“A Cartomante”, escrito por Machado de Assis é um bom exemplo de conto de suspense, ou seja, durante toda a narrativa o autor mantém o leitor preso à ansiedade de saber o desfecho da história. Para tanto, com bastante sutileza Machado alimenta a curiosidade do leitor com uma série de detalhes que adiam o fim, mas que trazem maior compreensão da alma de cada um dos personagens. Como é característico da obra de Machado, observa-se a atitude de revelar alma humana desmascarada, com seus defeitos e erros.
Depreende-se com a leitura do conto a tese defendida pelo autor quando suscita uma observação que Hamlet faz a Horácio, certamente a filosofia humana era incapaz de entender todas as coisas existentes no céu e na terra, demonstrando a urgência de explicar as relações entre os personagens de sua história. “Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens”. Os dois primeiros eram amigos de infância, a última era esposa do primeiro e a princípio amiga do segundo, mas como o ser humano é falho, esta amizade cede lugar a um algo mais, que ia além do moralmente aceito como certo. “Adeus, escrúpulos”. Segundo Machado, a culpa foi dela, sedutora e enganadora. Machado dá a entender que essa história poderia não acabar bem, mas logo em seguida leva o leitor a considerar o contrário por causa das revelações feitas por uma cartomante do decorrer da narrativa. Assim, o contista é extremamente enfático quando apresenta reflexões filosóficas provando que há certamente muito para ser descoberto ainda. Dois homens e uma mulher, certamente algo não ia acabar bem. Ou como a própria Rita dizia, havia muita coisa “misteriosa e verdadeira neste mundo”. É nesta busca do verdadeiro que Rita e logo em seguida Camilo, rendem-se à curiosidade de consultar uma cartomante. Rita mostra-se aberta às superstições e crendices, Camilo não, apresenta-se a princípio com um descrer construído por cima de tudo que aprendeu na infância e fora soterrado na juventude. Contudo, todo suspense no qual foi envolvido com a chegada de uma carta do amigo traído, faz com Camilo relembre seu misticismo e religiosidade e corra para ver o que a tal cartomante podia dizer-lhe sobre o que o estava atormentando. “O presente que se ignora vale o futuro”. É interessante também ressaltar o desfecho do conto, pois o narrador cria uma expectativa de que tudo realmente aconteceria conforme as previsões da cartomante e logo em seguida, no entanto observa-se um fim trágico, no qual os dois personagens traidores, que se tranqüilizaram após terem confiado em tais previsões, morrem assassinados brutalmente pelo marido ofendido.
Por fim, percebe-se que a necessidade que o homem possui de tentar prever seu futuro, em nenhum momento se dá com o intuito de alterar suas ações atuais visando um bom resultado posterior, mas sim no sentido de contornar situações difíceis causadas por más escolhas. A capacidade que Machado de Assis possui de revelar a profunda densidade humana, o faz reverenciado por seus romances e contos. A cartomante faz parte do volume Contos fluminenses e Papéis Avulsos, e traz em si a sociedade como seu foco através de uma linguagem inovadora, ferina, sarcástica e brilhante.
http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp
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