quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Análise do conto “A Cartomante”, de Machado de Assis por Joyna Petta



“A Cartomante”, escrito por Machado de Assis é um bom exemplo de conto de suspense, ou seja, durante toda a narrativa o autor mantém o leitor preso à ansiedade de saber o desfecho da história. Para tanto, com bastante sutileza Machado alimenta a curiosidade do leitor com uma série de detalhes que adiam o fim, mas que trazem maior compreensão da alma de cada um dos personagens. Como é característico da obra de Machado, observa-se a atitude de revelar alma humana desmascarada, com seus defeitos e erros.
Depreende-se com a leitura do conto a tese defendida pelo autor quando suscita uma observação que Hamlet faz a Horácio, certamente a filosofia humana era incapaz de entender todas as coisas existentes no céu e na terra, demonstrando a urgência de explicar as relações entre os personagens de sua história. “Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens”. Os dois primeiros eram amigos de infância, a última era esposa do primeiro e a princípio amiga do segundo, mas como o ser humano é falho, esta amizade cede lugar a um algo mais, que ia além do moralmente aceito como certo. “Adeus, escrúpulos”. Segundo Machado, a culpa foi dela, sedutora e enganadora. Machado dá a entender que essa história poderia não acabar bem, mas logo em seguida leva o leitor a considerar o contrário por causa das revelações feitas por uma cartomante do decorrer da narrativa. Assim, o contista é extremamente enfático quando apresenta reflexões filosóficas provando que há certamente muito para ser descoberto ainda. Dois homens e uma mulher, certamente algo não ia acabar bem. Ou como a própria Rita dizia, havia muita coisa “misteriosa e verdadeira neste mundo”. É nesta busca do verdadeiro que Rita e logo em seguida Camilo, rendem-se à curiosidade de consultar uma cartomante. Rita mostra-se aberta às superstições e crendices, Camilo não, apresenta-se a princípio com um descrer construído por cima de tudo que aprendeu na infância e fora soterrado na juventude. Contudo, todo suspense no qual foi envolvido com a chegada de uma carta do amigo traído, faz com Camilo relembre seu misticismo e religiosidade e corra para ver o que a tal cartomante podia dizer-lhe sobre o que o estava atormentando. “O presente que se ignora vale o futuro”. É interessante também ressaltar o desfecho do conto, pois o narrador cria uma expectativa de que tudo realmente aconteceria conforme as previsões da cartomante e logo em seguida, no entanto observa-se um fim trágico, no qual os dois personagens traidores, que se tranqüilizaram após terem confiado em tais previsões, morrem assassinados brutalmente pelo marido ofendido.
Por fim, percebe-se que a necessidade que o homem possui de tentar prever seu futuro, em nenhum momento se dá com o intuito de alterar suas ações atuais visando um bom resultado posterior, mas sim no sentido de contornar situações difíceis causadas por más escolhas. A capacidade que Machado de Assis possui de revelar a profunda densidade humana, o faz reverenciado por seus romances e contos. A cartomante faz parte do volume Contos fluminenses e Papéis Avulsos, e traz em si a sociedade como seu foco através de uma linguagem inovadora, ferina, sarcástica e brilhante.

http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp