quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Texto temático a partir de O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, por Joyna Petta


Dia 05 de Outubro, data da escolha dos candidatos aos cargos eletivos para prefeito e vereador, está se aproximando e junto com ele várias questões se tornam latentes na sociedade democrática, como a definição de critérios de avaliação dos pretendentes, estabelecimento das necessidades prioritárias a serem solucionadas e discussão sobre a credibilidade dos políticos brasileiros.
Observando-se elementos encontrados em O conto da ilha desconhecida, que narra a história de um homem obstinado que decide pedir um barco ao rei, mesmo sem saber navegar e sem possuir estrutura alguma, mas contudo carregando o sonho de encontrar uma ilha nunca antes conhecida. Na primeira tentativa, teve seu sonho dificultado pela burocracia, seu rei não era acessível. Depois de muita espera, após ouvir um não, ele não desiste do seu sonho e insiste no seu plano original. A situação exposta por Saramago, por meio de uma linguagem singular, não é estranha aos brasileiros, visto que uma audiência com um político é algo muito difícil, principalmente se o motivo for fazer um pedido.Diante de uma quantidade considerável de opções, saber escolher alguém compromissado com a coletividade requer tempo e cuidado. No conto de Saramago, o homem não teve a oportunidade de escolher seu representante, pois este era um rei, mas percebe-se neste personagem características presentes em alguns políticos atuais, entre elas o distanciamento do povo. Para quem pode escolher, o óbvio seria optar por alguém que tivesse mostrado trabalho e compromisso ou alguém que mesmo sem experiência apresentasse capacidade de realização.Maior que a quantidade de candidatos é a necessidade da população, portanto definir as urgências e procurar nomes que proponham uma solução para elas é um caminho. O problema é que interesses particulares dificultam esse processo, colocando-se antes dos interesses coletivos, dando assim espaço para a corrupção, para troca de favores e para anulação do maior poder que cada cidadão possui – o voto. Políticos corruptos são eleitos por pessoas que compactuam com a corrupção, mas isso pouca gente discute. O julgamento se dá de forma unilateral, mas quem julga termina julgado e igualmente punido por suas avaliações.Saramago nos ensina que acreditar que uma sociedade melhor é possível, é tão importante quanto descobrir o valor de um sonho, como pedir um barco e levá-lo ao mar, crendo que este não vai afundar. Escolher bem os tripulantes garante uma viagem mais segura, ainda que não se tenha certeza de até onde se vai chegar. Saber exigir é fundamental, saber persistir garante o sucesso. E uma escolha bem feita certamente gerará motivos de felicidade e agradecimentos, ele até cria uma outra porta pra isso. Porém a decisão do voto se dá de forma solitária, assim como na porta das decisões, no momento de usar a urna, é um de cada vez, depois disso nada vai ser como antes, não tem como voltar atrás. A decisão do voto vale muito mais que uma vida, dela depende o futuro de toda população.
Escrito em 01/10/2008
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar " - Saramago em O Conto da Ilha Desconhecida