terça-feira, 18 de novembro de 2008

Análise dos subtítulos do conto “A igreja do diabo”, de Machado de Assis por Joyna Petta


O conto “A igreja do diabo”, de Machado de Assis, é narrado em terceira pessoa e possui quatro subtítulos. O primeiro subtítulo escolhido dá pistas sobre o assunto principal, a idéia mirabolante que o diabo teve de fundar sua própria igreja, com o objetivo de combater e destruir as outras religiões, além de conceder à sua pessoa um culto regular com direito a tudo: livros sagrados, rituais e rotinas eclesiásticas. Para conseguir seu objetivo, o “dito cujo” pretende se aproveitar da rivalidade existente entre as demais religiões e da multiplicidade de doutrinas oferecidas por elas, apresentando a sua forma de negar como seu diferencial. Saliente, resolveu ir até o céu para comunicar a Deus sua idéia e aproveitar o momento para desafiar o Supremo Criador.
Entre Deus e o Diabo, corresponde ao subtítulo do segundo capítulo e narra esta conversa entre Deus e o diabo sobre a fundação da tal igreja. Com muita provocação tenta provar ao Criador a grandeza e o fundamento de sua idéia e como havia de conquistar os homens através de seu ponto fraco, usando a arte retórica e a metáfora das “franjas de algodão” que simbolizavam o ponto fraco das virtudes na humanidade. Porém o Senhor diz não ver em sua idéia nada de inovador, considerando-a vulgar, comum entre os moralistas mundanos, um assunto gasto que servia apenas para entediar os habitantes celestiais que o ouviam naquele momento. Já no terceiro capítulo, com o subtítulo “A boa nova aos homens”, o narrador revela como o “inimigo das almas” pôs seu plano maligno em prática, apresentando-se pessoalmente e explorando sua nova doutrina que oferecia aos homens a substituição das virtudes por outras “virtudes naturais e legítimas” como a soberba, luxúria, preguiça, avareza, ira, ódio, desprezo, venalidade, hipocrisia, indiferença, invertendo assim a ordem das coisas, fazendo as pessoas esquecerem do que é bom e amarem o que é perverso e fruto das vantagens temporais. Porém, Lúcifer faz também suas restrições, proibindo todas as formas de respeito, elementos de decoro social e pessoal, solidariedade humana e amor ao próximo. Por fim, no quarto e último capítulo do conto, com o subtítulo “Franjas e Franjas”, o diabo confirma sua previsão sobre a “teoria das franjas de algodão” a partir das quais as capas das virtudes eram desfeitas e deixavam desprotegidos os mortais para se tornarem os novos adeptos da “religião do cão”. No entanto, quando o diabo começou a cantar vitória, ele percebeu que, após a consolidação de sua religião, seus fiéis começaram a praticar as antigas virtudes às escondidas, o que causou-lhe uma enorme desorientação.
Espantado com o fenômeno que estava acontecendo o inimigo resolveu subir ao céu novamente e inquirir de Deus, que tudo sabe, a causa secreta da sua inquietação. Deus respondeu por metáforas “as capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana”, em alusão à constante mudança que acontece no homem frente às suas vontades e às regras estabelecidas.Pode-se a partir do exposto acima atribuir uma palavra-chave para cada um dos subtítulos respectivamente: Igreja, Conversa, Doutrina e Contradição.

http://paginas.terra.com.br/arte/ecandido/mestre31.htm